Disseminação
Cultural e Artística
Disseminação Cultural e Artística

Janeiro - Outubro 2022
Figueiró dos Vinhos, Ansião, Proença-a-Nova

Colectivo Til

Portugal

Artes Plásticas – Intervenção Artística

Conversa com a Comunidade

Website

“O Regolfo”
2022

Ponto de visitação nº 11
Padrão, Proença-a-Nova
39.60455º, -7.81157º

Sinopse

A encosta que desce até à água está despida de vegetação, apenas o chão de xisto quebrado pelo sol se mantém. Tempos houve em que o Ocreza, travado pela barragem, subia e ocupava os pequenos vales que o circundam. Mas hoje, em ano de pouca chuva, meio rio, meio lago, está a voltar a perder água.

Padrão chegou a ser a aldeia mais populosa da zona, quando os montes estavam cobertos de seara e olival. Hoje, os que aqui vivem estão atentos sobretudo ao rio, aos peixes que aprenderam a viver nas águas represadas. A cada manhã de pesca, os habitantes descobrem o quanto ela desceu durante a noite: 50, 10 centímetros, 1 metro. Dizem que o rio Tejo precisou de mais água nessa noite, que o Ocreza tem que compensar essas perdas. Água que alimenta água. Barragem que descarrega sobre barragem, sem nascente. Quando questionados sobre o que a sua paisagem quer, os habitantes de Padrão responderam: uma forma de chegar ao rio.

Durante 9 dias, a viver e trabalhar na Associação Cultural, Recreativa e Desportiva do Padrão, o Colectivo Til conheceu de perto esta aldeia, entrando em modo de parceria com os seus habitantes. A partir das intenções pré-existentes dos moradores, a obra proposta pelo Colectivo foram duas plataformas flutuantes, ambas espaços de estar sobre a água e ambas feitas de materiais recuperados dos armazéns da Câmara de Proença-a-Nova, mas distintas na sua presença e na sua forma e sugestão de relação com o rio.

Antes disso, para chegar ao rio, a encosta ainda teria que ser atravessada por uma nova estrada que permitisse entregar de forma amigável pessoas e barcos à margem. Apesar da complexa ambição, nesses 9 dias os astros alinharam-se e a paisagem acabou por se transformar de uma forma que só um conjunto de pessoas a trabalhar e a conviver juntas podem fazer.

Através do regolfo das águas, na margem do Ocreza revelam-se ações humanas de muito mais longe e maior dimensão. Os pescadores dizem que quando a água desce os peixes deslocam-se para mais perto da barragem em busca de oxigénio. Em Padrão, cabe-nos também ser ágeis, atentos. E, sempre que possível, flutuar.

Biografia

O Colectivo Til foi formado em 2015 por pessoas de diferentes disciplinas, que se juntaram com um interesse comum nos materiais e processos de cocriação, assim como na intervenção cívica e social pelo questionamento e valorização dos lugares.

No seu percurso, o coletivo tem trabalhado com diversas instituições sociais e culturais, explorando as fronteiras entre a arte, a arquitetura e a educação. Na forma de instalações temporárias, ou processos de construção participativa e comunitária, os projetos do coletivo convidam a refletir sobre o que é o espaço público entendendo-o nas suas múltiplas dimensões, cultural, social, natural e material. 

Os projetos do coletivo são sempre uma procura por ativar possibilidades comuns de cada comunidade e lugar, incentivando o saber e o inventar de vidas materiais e contribuindo com uma atitude crítica que fomente economias solidárias e circulares.

Guiados pela linha orientadora de aprender fazendo, alia-se uma abordagem experimental e pedagógica a processos materiais que se tornam momentos de verdadeira apropriação, exploração e discussão coletiva.